Armando Nogueira
Quarta-feira, 24 de Julho de 2002
O Fluminense retira Telê da vida reclusa e presta-lhe uma bela homenagem, no rol de celebrações do centenário. Na era do profissionalismo, poucos encarnam tão bem a glória do clube como Telê Santana. Que o digam os que o viram, um fiapo de gente, a ensopar a camisa de talento e suor, no começo dos anos cinqüenta. Eu vi, cansei de ver Telê criar, ao lado de Didi, momentos que, depois, Nelson Rodrigues recriava na sua prosa poética de consagração tricolor. Aliás, foi outro ilustre tricolor, Mário Filho, quem primeiro chamou Telê de "Fio de Esperança". Nada mais feliz. Telê era em cada jogo a renovada promessa de um novo gol, de um novo triunfo, de um novo título. Como o de campeão carioca de 1951. Solidário, Telê subia e descia o lado direito do campo, defendendo e atacando, guerreiro incansável. Era, em 51, a prefiguração do que viria a ser o também infatigável Zagallo, no mundial de 58.
A imortalidade do Fluminense está nos seus nobres troféus, nos seus castos vitrais, nas nuvens de pó-de-arroz perfumadas, na bandeira de três cores, no hino (o mais bonito de quantos Lamartine Babo compôs pros clubes do Rio); na aristocracia de Marcos Carneiro de Mendonça; na saudade de Romeu e Carreiro; na recordação de Orlando Pingo de Ouro e Pedro Amorim. Mais que tudo, o Fluminense do meu tempo está nos gols incomparáveis de Ademir Menezes, um portento de artilheiro que não dava por menos: no supercampeonato de 46, cada gol dele tinha ressonâncias de verdadeira ópera. Ao lado de Ademir, na mesma dimensão histórica, figura o goleiro Castilho. Sem ser santo, o moço fazia milagres em baixo das traves. Enfim, são tantas e tamanhas as fulgurações pessoais na vida do Fluminense que seria impossível enumerá-las sem cometer imperdoáveis omissões.O Fluminense de minha memória afetiva é, sobretudo, Nelson Rodrigues, autor dos cânticos mais poéticos, mais ardentes que alguém já dedicou a um clube de futebol. Em Nelson, com quem briguei e desbriguei algumas vezes, aprendi que o Fluminense veio ao mundo com a vocação da eternidade.
Preciosa lição que trago comigo, pela vida afora, no melhor do meu coração.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
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Um comentário:
Belo, belíssimo texto.
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