Não, o Fluminense não pode morrer.
Pelo belo gol de Ademir, no supercampeonato de 46; pelos milagres que obrava Carlos Castilho, o goleiro prodigioso; pela prosa de Coelho Neto; pela paixão homérica de Nelson Rodrigues; pelos vitrais da sede imperial nas Laranjeiras; pela Taça Olímpica; pela gota de lágrima que pressenti, ontem, no rosto vincado de um amigo; pela dinastia Gallotti; pelo sorriso fidalgo de Haroldo Barbosa; pelo humor de Sérgio Porto, o Stanislau Ponte Preta; pelas irreverências de Ronaldo Bôscoli; pelo marinheiro sueco, o Hans, que canta o Fluminense em tantos idiomas; pelo clã dos Carneiro de Mendonça; pelos passes indeléveis de Romeu Pelliciari; pela consagração de Telê Santana, nos campos tricolores; pelo amor de Hugo Carvana; pelos poemas, todos!, de Chico Buarque; pelo time de botões de Carlos Heitor Cony; pelo Braguinha, que leva o clube nas próprias entranhas pelo mundo afora; pelas braçadas olímpicas de João Havelange na piscina tricolor; pela bola iluminada de Batatais, Santamaria, de Romeu, de Tim, de Pedro Amorim, Orlando Pingo de Ouro, de Carreiro e Afonsinho; pelo Gravatinha; pelas nuvens de pó-de-arroz que perfumam as tardes do Maracanã; pelo bairro das Laranjeiras, cujas ruas, todas elas!, desembocam na lendária Álvaro Chaves; pelo estadinho, imortalizado, ao nascer, com o gol de Friendereich dando ao Brasil o Sul-americano de 19; pelo lirismo de Oduvaldo Cozzi que narrava, como ninguém, um gol do seu Fluminense; por Luiz Murgel, que amou o clube com todas as letras; por Benício Ferreira Filho, sepultado com a bandeira do clube no peito; por Francisco Horta que entoou, pela primeira vez, o grito de guerra "Vencer ou Vencer!"
Por Gerson e Rivelino que, até hoje, querem tão bem ao Fluminense; pelo Flamengo que nasceu de uma costela tricolor; pelo Botafogo, velho co-irmão de rancores e de amores remotos; pelo mais enxuto verso do futebol: Fla-Flu, doce aliteração carioca; pela bandeira tricolor: o branco, símbolo da alma pura, o vermelho, a cor dos nobres e o verde, a luz da criação do mundo!E porque o Fluminense não pode morrer, sua divisa, agora, é Viver ou Viver!
(Armando Nogueira, quando o Flu estreou na segunda divisão)
terça-feira, 16 de setembro de 2008
"Não sei da onde isso veio. Por que uma criança da minha geração escolheria ser Fluminense? Afinal, ainda me recordo dos tempos em que era mais novo, gostava de colecionar as figurinhas do Campeonato Brasileiro, e comprava aqueles malditos álbuns para colar as figurinhas conquistadas nas brincadeiras de bafo.
Mas por que malditos? Simples, não entrava na minha cabeça infantil o fato de não ter o Fluminense lá. Eu mal e porcamente tenho memórias do gol de barriga, e tinha pouca compreensão do rebaixamento, mas mesmo assim, me auto-demoninava tricolor.
O que leva uma criança, com todas as opções em aberto, sem sofrer influências, a escolher um clube que vivia a época mais turbulenta de sua história? O que leva uma criança, a suportar todas aquelas zoações e piadas, se ela ainda tem a chance de mudar de time, de escolher o caminho mais fácil?
Vou ser totalmente sincero, não sei, e ainda digo que esse é o meu caso, mas a cada dia que passa, a cada momento que conheco mais a história desse clube, sei que fiz a escolha certa. Sem o Fluminense, eu sentiria um vazio estranho no peito, eu não seria eu mesmo sem meu Tricolor. Não sei da onde veio, mas não vivo sem."
(Guilherme Natal)
Mas por que malditos? Simples, não entrava na minha cabeça infantil o fato de não ter o Fluminense lá. Eu mal e porcamente tenho memórias do gol de barriga, e tinha pouca compreensão do rebaixamento, mas mesmo assim, me auto-demoninava tricolor.
O que leva uma criança, com todas as opções em aberto, sem sofrer influências, a escolher um clube que vivia a época mais turbulenta de sua história? O que leva uma criança, a suportar todas aquelas zoações e piadas, se ela ainda tem a chance de mudar de time, de escolher o caminho mais fácil?
Vou ser totalmente sincero, não sei, e ainda digo que esse é o meu caso, mas a cada dia que passa, a cada momento que conheco mais a história desse clube, sei que fiz a escolha certa. Sem o Fluminense, eu sentiria um vazio estranho no peito, eu não seria eu mesmo sem meu Tricolor. Não sei da onde veio, mas não vivo sem."
(Guilherme Natal)
Carimbo Tricolor
Algumas coisas que acontecem na vida da gente marcam de forma definitiva o nosso futuro. E a forma como eu me consagrei um Tricolor, assim mesmo, com letra maiúscula, certamente foi uma das coisas que mudou a minha vida. E para o bem. Eu digo “me consagrei” – e não “me tornei” – porque sendo filho do velho Comandante Nonato, o maior Tricolor que conheci, é evidente que em minhas veias corria desde sempre sangue pó-de-arroz. Mas ainda assim era necessária a consagração. E vamos aos fatos.
Para ser muito sincero, o ano eu não me lembro. Arriscaria que foi em 81, mas não tenho certeza. Eu era um moleque de três anos e poucos meses de idade, morando em São Pedro d’Aldeia, no estado do Rio, quando o velho me disse que eu ia conhecer o Maracanã. O jogo havia sido escolhido de forma propícia, um Fluminense e Portuguesa da Ilha, e idealmente seria uma vitória sem sustos pro torcedor-fraldinha aqui deitar e rolar. Por capricho dos deuses da bola, um tal de Buga meteu dois gols, perdemos por dois a zero e só me lembro mesmo da nossa própria torcida se retirando pelas rampas do maior do mundo gritando em autogozação o nome do nosso carrasco. Meu pai não deu muita bola para aquilo e acredito eu que aquele quase desprezo pela derrota tenha sido baseado na certeza daquele marujo velho de guerra de que seu filho tinha pinta de vencedor, e assim sendo só poderia torcer pelo clube tantas vezes campeão.
Dois ou três dias depois do jogo lá estava eu na escolinha de futebol todo uniformizado, o que tranqüilizou mais ainda o velho. Mas o fato é que eu ainda precisava de um batismo de verdade, de uma cerimônia digna de apresentação ao time por quem iria torcer até o fim da vida! E de maneira corajosa o velho decidiu me levar a um Fla-Flu coisa de duas semanas depois daquele jogo do Buga. Digo corajosa porque o time do Coisa Ruim tinha àquela época Zico, Adílio, Leandro, Raul, Júnior e mais alguns. E o nosso time era bem mais fraco, nos restando basicamente a força da camisa listrada. Também me lembro pouco desse jogo. Na verdade o único momento que me vem à cabeça foi de uma explosão de alegria fascinante e nunca antes experimentada que veio a suceder um chutão de nossa defesa. Este “brilhante lançamento” foi parar nos pés de um certo Amauri que fez o caroço morrer mansamente nas redes adversárias. Um a zero para nós e ponto final. E o barulho e alegria do lado do bem se contrapunham ao silêncio do lado do mal. Um momento de pura poesia no Maraca. Uma verdadeira consagração para um tricolor-mirim.
Naquele dia e naquele estádio que eu viria a pisar mais uma infinidade de vezes eu estava indelevelmente carimbado: Tricolor! Com letras maiúsculas e graças ao meu pai! Se cuida aí em cima, velho! E vê se aparece no Maraca quando puder pra dar aquela força.
(Marcos Gurgel - 17/01/2005)
* Texto enviado pelo amigo Edson. Obrigada!
Para ser muito sincero, o ano eu não me lembro. Arriscaria que foi em 81, mas não tenho certeza. Eu era um moleque de três anos e poucos meses de idade, morando em São Pedro d’Aldeia, no estado do Rio, quando o velho me disse que eu ia conhecer o Maracanã. O jogo havia sido escolhido de forma propícia, um Fluminense e Portuguesa da Ilha, e idealmente seria uma vitória sem sustos pro torcedor-fraldinha aqui deitar e rolar. Por capricho dos deuses da bola, um tal de Buga meteu dois gols, perdemos por dois a zero e só me lembro mesmo da nossa própria torcida se retirando pelas rampas do maior do mundo gritando em autogozação o nome do nosso carrasco. Meu pai não deu muita bola para aquilo e acredito eu que aquele quase desprezo pela derrota tenha sido baseado na certeza daquele marujo velho de guerra de que seu filho tinha pinta de vencedor, e assim sendo só poderia torcer pelo clube tantas vezes campeão.
Dois ou três dias depois do jogo lá estava eu na escolinha de futebol todo uniformizado, o que tranqüilizou mais ainda o velho. Mas o fato é que eu ainda precisava de um batismo de verdade, de uma cerimônia digna de apresentação ao time por quem iria torcer até o fim da vida! E de maneira corajosa o velho decidiu me levar a um Fla-Flu coisa de duas semanas depois daquele jogo do Buga. Digo corajosa porque o time do Coisa Ruim tinha àquela época Zico, Adílio, Leandro, Raul, Júnior e mais alguns. E o nosso time era bem mais fraco, nos restando basicamente a força da camisa listrada. Também me lembro pouco desse jogo. Na verdade o único momento que me vem à cabeça foi de uma explosão de alegria fascinante e nunca antes experimentada que veio a suceder um chutão de nossa defesa. Este “brilhante lançamento” foi parar nos pés de um certo Amauri que fez o caroço morrer mansamente nas redes adversárias. Um a zero para nós e ponto final. E o barulho e alegria do lado do bem se contrapunham ao silêncio do lado do mal. Um momento de pura poesia no Maraca. Uma verdadeira consagração para um tricolor-mirim.
Naquele dia e naquele estádio que eu viria a pisar mais uma infinidade de vezes eu estava indelevelmente carimbado: Tricolor! Com letras maiúsculas e graças ao meu pai! Se cuida aí em cima, velho! E vê se aparece no Maraca quando puder pra dar aquela força.
(Marcos Gurgel - 17/01/2005)
* Texto enviado pelo amigo Edson. Obrigada!
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
"Ser tricolor não é uma questão de gosto ou opção, mas um acontecimento de fundo metafísico, um arranjo cósmico ao qual não se pode - e nem se deseja - fugir." (Nelson Rodrigues)
"Quarenta anos antes do paraíso, já estava escrito que eu seria pó-de-arroz nato e hereditário." (Nelson Rodrigues)
"Minha maior alegria é ter jogado no Fluminense, o maior clube que eu conheci." (Romerito)
"Quarenta anos antes do paraíso, já estava escrito que eu seria pó-de-arroz nato e hereditário." (Nelson Rodrigues)
"Minha maior alegria é ter jogado no Fluminense, o maior clube que eu conheci." (Romerito)
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