"Mas o Brasil tinha, sim, um herói sem esporas e sem penacho: - o velho Rui. Pequenino e cabeçudo como um anão de Velásquez, o grande baiano era um mito irresistível. Diziam: - "O sujeito mais inteligente do mundo". Sabia todas as línguas, até chinês. Nenhum brasileiro dizia o seu nome sem lhe acrescentar um ponto de exclamação. Lembro-me de uma vizinha, gorda como uma viúva machadiana, entrando na minha casa. Vinha da cidade e repetia, desvairada: - "Eu vi o Rui Barbosa! eu vi o Rui Barbosa!" E porque o vira, de passagem, por um momento fulminante, ela teve que se abanar e tomar água com açúcar. Eis o que eu queria dizer: - o meu herói podia ter sido o Rui e foi Marcos de Mendonça.
Hoje, eu o vejo, de vez em quando. Passa na multidão em violento destaque. Ele sobressai, obrigatoriamente alto, que é, como o "Dedo de Deus". Foi o meu herói de calções e chuteiras. Enquanto a guerra povoava a Europa dos mortos em flor, Marcos de Mendonça enchia a minha infância".
(Nelson Rodrigues)
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
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2 comentários:
Essa crônica é linda!
Dá-lhe Nelsão!!! Sensacional!!!
Só um adendo, nao tem como a gente nao fazer essa analogia: "o velho Rui. Pequenino e cabeçudo", hehehehe, preciso explicar?? hehehehe
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