terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Recordar é viver: Para sempre, Castilho

Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 2010.

Caro Castilho, estas linhas se dirigem àquele atleta que é, por si só, um símbolo do Fluminense Football Club. Há o distintivo, o pavilhão, a camisa, as três cores... e há você. Pelas fileiras tricolores já passaram centenas, milhares de atletas. Alguns gênios do esporte, tais quais Marcos de Mendonça, Welfare, Preguinho, Romeu, Batatais, Pinheiro, Didi, Telê e tantos outros. Mas nenhum deles defendeu tantas vezes o nosso Pavilhão quanto você.

Em quase 700 oportunidades, lá estava você, a guarnecer os arcos do Fluminense. E como o fazia bem: em mais de 250 oportunidades, sua meta não foi vazada, um recorde até hoje intacto. Os invejosos babavam: "é sorte! é sorte! Castilho é muito sortudo!". Mas nós sabemos que a sorte só acompanha aqueles que trabalham para merecê-la. E você é o maior exemplo disso, com aquela dedicação inabalável aos treinamentos. Nunca, em todos os tempos, houve goleiro que treinasse mais do que você. Antes de todos os seus companheiros chegarem ao campo, você já estava debaixo do gol, pulando para lá e para cá. Eles chegavam, treinavam, iam embora, e você ainda estava debaixo das traves, aperfeiçoando sua técnica.

Seu primeiro título pelo Fluminense teve sua fundamental participação. Na final do Torneio Municipal de 1948, estavam o Fluminense e o Vasco. Castilho, você tem a noção de que aquele foi o melhor time da história do Vasco? Veja essa linha de ataque: Djalma, Maneca, Friaça, Ademir e Chico. Naquele 30 de junho, em General Severiano, você parou essa artilharia pesada. O Fluminense venceu o Expresso da Vitória por 1 a 0, gol do Orlando, e sagrou-se campeão.

Em 1951, você liderava aquele time de garotos. Ninguém acreditava no dito Timinho, mas o Fluminense foi o campeão carioca, nas finais contra o Bangu, já em janeiro de 1952. Meses depois, os melhores times do mundo vieram ao Maracanã, e foram todos derrotados por vocês, o Sporting Lisboa, o Áustria Viena, o Corinthians, o Peñarol recheado dos uruguaios de 50. A Copa Rio é nossa maior conquista, e você era o goleiro. Castilho, Píndaro e Pinheiro, a Santíssima Trindade tricolor. O trio mais famoso da história do futebol brasileiro. Vocês eram a bastilha inexpugnável, como dizia o Nelson Rodrigues.

Ainda houve outras conquistas suas pelo Fluminense, os Cariocas de 1959 e 1964, o Rio-São Paulo de 1960. Além disso, você representava o Tricolor naquelas memoráveis Seleções, em 50, 54, 58 e 62. Nas duas últimas, você era o suplente. Porém, quando perguntado sobre o segredo de se manter em boa forma, o titular Gilmar dizia: "Castilho é meu reserva. Não posso respirar!". Acredite, Castilho: por trás de cada intervenção de Gilmar, havia as suas mãos. Você é tão responsável pelo bicampeonato quanto ele.

Hoje, nossas enciclopédias e nossos livros dizem que Carlos José Castilho faleceu em 2 de fevereiro de 1987. Mas Castilho vive. Em cada coração tricolor, existe um pedacinho de Castilho. E toda vez que o Fluminense entra em campo, ali está você, atrás da nossa meta, a orientar nosso goleiro. Assim será para sempre.

(Postado por Paulo Cezar Filho no site Pavilhão Tricolor)